quinta-feira, 5 de maio de 2011

Com você, me sinto em casa


A mais linda declaração de amor que já ouvi é “com você me sinto em casa”. Só uma desterrada como eu é capaz de entender a beleza singela que comove nessas palavras. E só um desterrado como tu consegue aglutinar um mundo inteiro de sentimentos em uma palavra tão simples: casa. “Com você me sinto no ar” é piegas. “Com você me sinto no céu” provoca culpa. Mas “com você eu me sinto em casa” reúne tudo o que eu espero de um amor. Porque “com você eu me sinto em casa” tem o cheiro de pão da avó saindo do forno. Tem essa felicidade efêmera das palavras escritas a dedo no vidro embaçado pelo hálito de nossas paixões. E as flores da rua em que cresci; cachos rosados pendendo das árvores como algodão doce. Minha casa não tem dendê, mas o gosto delicado do alecrim que não esconde o sabor da tua boa cozinha. “Com você eu me sinto em casa” enche a boca d´água como o prato fumegando posto à mesa. Chora uma milonga como acordes de acordeona. Ca-sa... Sussurrado com aquele sotaque que paroxítona o que se diz e tonifica minha saudade. “Com você me sinto em casa”, nesse mundo sem sentido, tem o contraste doce da chimia de amora deitada sobre o dourado do pernil. O mesmo contraste entre meus olhos cheios d´água com a cabeça metida em teu peito suado. E minha casa não é tua, e talvez nunca seja embora eu tenha as chaves. Mas, em sonhos, subo a avenida de jacarandás em flor e te vejo ali, falando em Woody Allen. Busco tua presença em meu passado da vida antes de ti e estranho quando não estás. Porque “casa” não tem ontem-hoje-amanhã. Tem o sentir-se em paz com um mundo tão nosso que posso ser o que eu quiser, de pijamas o dia todo. Porque se “com você eu me sinto em casa” não importa qual casa seja: é aquela em somos felizes, mesmo que saiba-deus-como.

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